Resposta- Na população norte-americana, a prevalência de dificuldades acadêmicas é de 20 a 30% dos jovens estudantes.
No Brasil, 15 a 20% das crianças cursando o ensino fundamental da primeira a quarta série têm dificuldade de aprendizagem.
Quando se analisa crianças da primeira a sexta série, esta estimativa sobe para 30-50%. A dislexia afeta crianças e adultos.
Esta dificuldade, que varia de intensidade e natureza, pode persistir até a idade adulta sob a forma de troca de palavras ou dificuldade em assimilar um texto escrito, ou também dificuldade em aprender um idioma estrangeiro.
P- Qual o impacto social dos distúrbios de aprendizagem e dislexia?
R- Os distúrbios de aprendizagem e a dislexia representam um grave problema de saúde publica.
O mau desempenho escolar, pode estar associado à repetência e evasão escolar, podendo persistir por toda vida, repercutindo na escolha da profissão, no contexto familiar e social.
As repercussões emocionais, acadêmicas e sociais são freqüentes nestes pacientes, com diferentes magnitudes e complexidades, variando de individuo a individuo.
P- Quais os fatores que influenciam no mau desempenho escolar das crianças?
R- Diversos fatores podem atuar como causais ao mau desempenho escolar, entre eles os exógenos ou ambientais e os intrínsecos/endógenos.
Os fatores exógenos/ambientais são: socioeconômico, familiar, pedagógico e cultural.
Os fatores intrínsecos/endógenos são: orgânicos, emocionais, comportamentais e perturbações do desenvolvimento.
As causas orgânicas mais comuns são: as doenças físicas, doenças do sistema nervoso central e o uso de medicamentos.
Causas emocionais e comportamentais mais comuns: deficiência mental, perturbações do espectro autista, estados limítrofes de funcionamento cognitivo, perturbações específicas da aprendizagem ou distúrbios específicos de aprendizagem (dislexia, disgrafia e discalculia), perturbação cognitiva não-verbal e transtornos de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Na prática, frequentemente pode haver inter-relação entre vários desses fatores.
P- Quais os distúrbios de aprendizagem mais comuns?
R- Dificuldades em matemática (acalculia ou discalculia do desenvolvimento), correspondem a 6% dos casos.
Dificuldade na expressão escrita (agrafia ou disgrafia/disortografia), corresponde de 8 a 15% dos pacientes.
Dificuldade na leitura (distúrbios específicos de leitura ou dislexia do desenvolvimento), representa 80% dos casos.
P- Quais as formas de dislexia?
R- As formas mais comuns de dislexia são: adquirida e do desenvolvimento.
A adquirida consiste em um distúrbio da leitura por lesões neurológicas.
A dislexia do desenvolvimento ocorre quando existe inteligência normal ou acima do normal, mas o aluno tem dificuldade de escrever e ler.
A dislexia do desenvolvimento é definida pela Federação Mundial de Neurologia como “distúrbio ou transtorno de aprendizagem da leitura, que surge apesar de inteligência normal, ausência de perturbações sensoriais ou neurológicas, instrução escolar adequada e oportunidades sócio-culturais suficientes”
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P- Qual o quadro clínico dos pacientes com dislexia do desenvolvimento?
R- Os pacientes apesar de conseguirem reconhecer as letras, não conseguem compor as palavras com as letras.
Apresentam dificuldade de ler e escrever, transpor letras e fonemas. Omitem palavras, perdem com freqüência o local de leitura, podem cursar com déficit de atenção e compreensão, fadiga e resistência a leitura em voz alta, algumas vezes confundida com falta de motivação.
Preferem estudar com alguém lendo para eles.
O baixo rendimento escolar leva a baixa auto- estima, oscilação de humor (as vezes triste outras vezes alegre) e comportamento (apatia, anti-social, depressão ou atitudes de conflito, rebeldia e confronto), com repercussões escolares e familiares variáveis e algumas vezes com gravidade crescente.
P- Quais as causas da dislexia?
R- Atualmente, acredita-se que a dislexia seja de natureza multifatorial, com origem neurobiológica e que fatores genéticos e sócio-ambientais podem aumentar a susceptibilidade para o seu desenvolvimento.
Há fortes evidências de que tanto a dislexia como a discalculia são familiares e hereditárias, com forma de transmissão complexa.
Vários estudos, tem demonstrado que existe uma forte correlação entre dislexia e os distúrbios proprioceptivos.
P- Como é feito o diagnóstico da dislexia?
R- Cabe a equipe multidisciplinar fazer o diagnostico diferencial entre as multipas doenças e fatores que podem influenciar no processo de aprendizagem e nos disturbios de aprendizagem.
Sendo assim a avaliação dos pacientes deve ser conduzida por uma equipe interdisciplinar, composta por: neurologista, psiquiatra, oftalmologista, otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, psicólogo, pedagogia entre outros profissionais.
Problemas escolares, familiares e sociais devem ser descartados. Também deve ser realizado exame completo do paciente visando descartar doenças ou distúrbios dos órgãos que captam as informações (órgãos do sentido tais como olho, ouvido, tacto, etc), alterações neurológicas ou motoras.
P- Como é feito o tratamento da dislexia do desenvolvimento?
R-O tratamento da dislexia do desenvolvimento é feito por equipe multidisciplinar, onde a participação familiar é fundamental.
Deve-se mediar os problemas ambientais, tratar comorbidades e através de uma equipe multiprofissional realizar treinos cognitivos, mediação e treinamento psicopedagógico e fonoaudiológico.
Em alguns casos indica-se o uso de softwares para facilitar a leitura e escrita.
A escola europeia, indica tambem a correção das distorções proprioceptivas. Uso de oculos com prismas ativos de baixa potencia (até 4 DP).
Estes prismas não provocam movimento ocular e sim diminuição da tensão dos fusos neuromusculares. Na presença de distúrbios de outros captores tais como trigeminal, plantar ou muscular, indica-se a sua correção.
Recomenda também a realização de exercícios de reprogramação postural e uso de apoios visando melhor equilíbrio da propriocepção, que é a percepção do próprio ser humano no espaço.
Dra. Liana Ventura: Médica Oftalmologista do Hospital de Olhos de Pernambuco - HOPE, Presidente da Fundação Altino Ventura - FAV, Doutorado na Universidade Federal de Minas Gerais, Mestrado na Universidade Federal de São Paulo, Frequentou diversos cursos e realizou estágios em serviços de dislexia e distúrbios de aprendizagem nos EUA, Portugal e França.
Fonte:http://
Imagem:Net
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